FOLHAPRESS
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) decidiu adiar a quarta edição da Feira Nacional da Reforma Agrária, que seria realizada em maio, após o governo João Doria (PSDB) vetar o evento no parque da Água Branca, zona oeste de São Paulo.
Os organizadores reclamam que o veto foi anunciado há pouco tempo, embora o pedido de autorização de uso do parque estivesse protocolado desde o ano passado.
“Nos enrolaram esse tempo todo. Faz uns 15 dias que o próprio secretário do Meio Ambiente nos chamou, disse que o conselho do parque vetou a feira e que a secretaria manteve a decisão”, afirma João Paulo Rodrigues, da coordenação nacional do MST. “Não nos deixaram nem argumentar e nem explicaram os motivos do veto.”
A Secretaria de Infraestrutura e Meio Ambiente diz que eles sabiam da decisão do conselho desde fevereiro, quando foi publicada a ata do que foi discutido.
“Na reunião realizada em março, com o objetivo de explicar a medida e buscar outros locais para o evento, todos os membros da organização já estavam cientes da decisão”, diz o órgão, em nota.
Segundo a pasta, o conselho gestor do parque entendeu que a estrutura do local não comporta mais o evento, que tem previsão de receber 200 mil pessoas, e que foram sugeridas alternativas como os parques da Juventude e o Ecológico do Tietê.
O conselho é formado por oito membros do governo e oito da sociedade civil e é opinativo (não tem poder deliberativo).
Rodrigues diz que o conselho do parque também opinou em anos anteriores contra a realização da feira, mas os governadores intervieram e permitiram a sua realização.
Ele diz que, por meio do vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), tentaram até a intermediação do ex-governador e presidente do PSDB Geraldo Alckmin para que a feira fosse realizada, mas ainda assim a gestão Doria não se sensibilizou.
O MST avalia que a proibição tem relação com o discurso político mais forte de Doria contra movimentos de esquerda e alinhado ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). “Sem dúvidas foi uma orientação do próprio núcleo duro do Palácio dos Bandeirantes”, afirma Rodrigues.
Segundo ele, o adiamento da feira prejudica os pequenos produtores, que já haviam programado a venda de hortifrúti e carnes em maio.
Agora, a entidade articula com o prefeito Bruno Covas (PSDB) outro espaço para que o evento aconteça em agosto. “Mas a nossa esperança é que Doria volte atrás e permita que a feira no parque da Água Branca, porque, como diria [o sociólogo] Antônio Candido, é um dos parques mais caipiras de São Paulo”, diz o coordenador do MST. “Topamos negociar tudo com eles, inclusive a diminuição no número de barracas e diminuir o som das apresentações artísticas.”
Segundo o movimento, no ano passado, a feira movimentou 420 toneladas de 1.500 produtos. Uma das opções alternativas para a feira de agosto é o complexo do Anhembi, na zona norte.
Na nota enviada à reportagem, o governo ainda afirma que a sugestão feita para que a feira fosse nos parques da Juventude e Ecológico do Tietê é porque eles “são maiores e oferecem mais segurança ao público”.