"Colapso chegou": médicos e gestores de hospitais relatam caos em atendimento covid-19
Foto: Agência Brasil
Postado em: 16/03/2021
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O colapso na saúde parece cada vez mais afetar hospitais de Sorocaba devido lotação de leitos e falta de vagas para atender pacientes covid-19.
Nesta manhã de terça-feira (16), 103 pacientes já atendidos nas unidades de urgência e emergência da cidade aguardam encaminhamento a leitos, sendo 41 de enfermaria e 62 de UTI.
Conforme o diretor-presidente da Irmandade da Santa Casa Misericórdia de Sorocaba, Flávio Miguel Júnior, o hospital já registra há 1 mês 100% de ocupação em leitos Covid-19. "Nos chama a atenção a quantidade de jovens sendo internados e intubados", afirma o gestor. "O leito é finito. É uma situação muito preocupante".
Segundo apurou o Ipa Online, três pessoas morreram na UPH Leste aguardando vagas em hospitais. Todos estes pacientes estavam intubados.
No último fim de semana, o gestor do hospital Santa Lucinda, José Luiz Pimentel, disparou uma mensagem em aplicativos alertando também sobre a lotação na unidade e afirmando que não haveria possibilidade de "aceitar novos pacientes com o novo coronavírus" por conta da situação. "A partir do momento em que a regulação municipal conseguir leitos para encaminharmos os pacientes que necessitarem de UTI, voltaremos a aceitar novos pacientes", afirma o texto que circulou pelo WhatsApp, por exemplo. Nessa última segunda-feira, tanto os leitos clínicos quanto os de UTI continuavam 100% ocupados.
A médica infectologista Naihma Salum Fontana, que atua em dois hospitais, sendo um em Sorocaba e outro em Itu, gravou um vídeo no domingo (14), que viralizou nas redes sociais. Nele, ela fala que "chegou o momento que mais temíamos: o colapso na saúde". "Não tem vagas e não param de chegar pacientes precisando de vagas. É uma situação de trincheira, de guerra. Nunca imaginei passar por isso. Em um dos hospitais que trabalho existe uma estrutura muito boa, que não está sendo suficiente".
Recorde de mortes em 1 boletim
Nesta última segunda-feira (15), a Prefeitura de Sorocaba divulgou 29 mortes de vítimas de covid-19. Até então, esse é o recorde de mortes divulgado em apenas um boletim diário. Estes óbitos ocorreram no período de 25 de fevereiro a 15 de março, mas informados pelo hospitais à Vigilância Epidemiológica e computados apenas ontem, não refletindo os dados das últimas 24 horas.
Falta de medicamentos preocupa
O gestor da Irmandade da Santa Casa Misericórdia de Sorocaba, padre Flávio Miguel Júnior, disse que, além da constante lotação de leitos destinados a pacientes com covid-19, passa a gerar preocupação nos hospitais a falta de insumos para atender os internados.
"A gente passa hoje por outro tipo de problema hospitalar no país - insumos, remédios", disse o gestor durante entrevista na Jovem Pan Sorocaba, na última quinta-feira (11).
Como exemplo, ele citou um bloqueador neuromuscular, utilizado quando a pessoa é intubada, e que ajuda no relaxamento muscular na traqueia. "A santa Casa consumia 30 por dia, hoje cerca de 300 diariamente. Não estamos achando-o mais no mercado. Nosso estoque dura 3 dias", relatou.
Um medicamento em falta no mercado e que preocupa o padre é o anestésico. "[Está em] falta no Brasil inteiro, de uma forma assustadora. Esse tenho estoque para dois meses, mas está super caro. Os hospitais não estão mais achando anestésicos. As pessoas precisam compreender que, quando se fala do colapso, não é só leito", declarou.
"Não é só ventilador, cama, lençol [que são utilizados em leitos UTI], não é só isso. Tem que ter, a cada leito, 4 bombas de infusão, medicação caríssima", continua.
Prefeitura assina intenção de compra de 300 mil doses de vacina
Entre as várias medidas que têm sido tomadas pela Prefeitura de Sorocaba com vistas ao enfrentamento da Covid-19, a mais recente aconteceu na noite desta segunda-feira (15), com a assinatura, pelo prefeito Rodrigo Manga, de um protocolo de intenção de compra de 300 mil doses de vacina.
O documento, assinado em conjunto pelo secretário da Saúde, Dr. Vinicius Rodrigues e pela secretária Jurídica, Luciana Mendes, além do prefeito Rodrigo Manga, diz respeito à intenção de compra da vacina da fabricante Novavax, que tem eficiência anunciada pelo fabricante de 96% contra o Coronavírus e de 100% em quadros graves da doença.
A vacina da Novavax, empresa norte-americana, é a NVX-CoV2373. Encontra-se na fase 3 de testes (última etapa), que estão sendo conduzidos no Reino Unido. Os dados de eficácia dessa vacina foram apresentados na última quinta-feira (11). Os resultados animadores a tornam mais uma esperança na luta contra a Covid-19.
Além de assinar o protocolo de intenção de compra, o prefeito também participou, na noite desta segunda-feira, de uma reunião voltada a compor as bases para a realização de uma parceria público-privada que facilite a aquisição de vacinas.
Também foi enviado à Câmara Municipal pedido para a destinação de emendas para o enfrentamento da Covid-19 pelo município, o que deverá ser discutido na sessão desta terça-feira (16). “As verbas obtidas não serão apenas para a compra de vacinas, mas para todos os recursos envolvidos no enfrentamento da Covid-19. Nossa cidade estará sempre à frente nas providências para o combate da pandemia, que tem se tornado mais grave, não apenas em Sorocaba, mas em todo o Brasil. Não estamos medindo esforços para buscar novas soluções”, afirmou o prefeito.
Centro de Estabilização Covid-19 Zona Oeste começa a funcionar nesta terça
Com o objetivo de ampliar a assistência de combate à pandemia da Covid-19 no município de Sorocaba, a UPH (Unidade Pré-Hospitalar) Zona Oeste será transformada em um Centro de Estabilização Covid, a partir desta terça-feira (16), o segundo em operação na cidade.
O novo Centro contará com 35 leitos Covid, sendo 23 de Suporte Ventilatório Avançado e 12 de Enfermaria. Alem disso, serão realizados no local os atendimentos de Pronto Atendimento para pacientes com sintomas da Covid-19, durante 24 horas por dia, no sistema de “portas abertas”.
Os atendimentos médicos não Covid para adultos e crianças continuam sendo realizados nas outras unidades de saúde.