Nos anos 80 a Celina Lucchesi frequentava o CVV- Centro de Valorização da Vida-Samaritanos. Ela tinha uma devoção incrível em ajudar o próximo. Passava horas da sua vida atendendo ao telefone para ouvir aqueles que ligavam. Celina reunia em torno de si os plantonistas em dias de cursos de formação. Estudava como professora que era, cada aula de ensino do CVV. O autor Kal Rogers, sempre citado em suas reflexões, tinha a preferência dos plantonistas.
Nessa época a Celina atuava também em grupos de casais com Cristo, como a Waldiana e o Dinei Cordeiro. Lembro- me que eram seis casais e todos foram à minha casa levando uma garrafa de vinho para comemorar a gravidez da Claudete. A Camila iria nascer no dia 15 de outubro de 1981. O vinho foi aberto depois dessa data.
Uma mulher surpreendente na fé. A Celina foi abençoada com três filhos. Acompanhei o nascimento e a vida de cada um deles. O Luiz Otávio, hoje advogado, levou o nome do pai. As irmãs Bel e a Isa Lucchesi são amigos que se revelaram adultos comprometidos com a comunidade. Cada um dos três filhos na sua profissão se revelou como vencedores.
A história da Celina Nóbrega Lucchesi teve uma trajetória humana exemplar. A cada obstáculo que aparecia ela encontrava motivação para ser feliz. Nesta última quinta-feira, dia 29 de julho a Celina descansou e partiu pra eternidade. Como na oração que acompanhou sua despedida no ato da cremação em Sorocaba, relembramos o áudio: “Quando observamos da praia, um veleiro a afastar-se da costa navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara. O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor. Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir da linha do horizonte, certamente exclamará: “Já se foi”. Terá sumido? Evaporado? Não, apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz “Já se foi”, haverá outras vozes, mais além, a afirmar: “Lá vem o veleiro”. Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível. O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino. Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: “Já se foi”, no além, outro alguém dirá: “Já está chegando”. Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.
Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar necessário. A vida é feita de partidas e chegadas. De idas e vindas. “Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada”.
Vá em paz Celina! Sua chegada ao céu será celebrada pelo amor que irradiou aqui na Terra. Sua alegria manifestada nas imagens que ilustram este artigo é como a felicidade de uma criança com os seus balões coloridos.
Vanderlei Testa jornalista e publicitário escreve aos sábados no www.jornalipanema.com.br/n/opiniao