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Ato de torcedores "a favor da democracia" acaba em confronto; PM viu presença de ‘grupos neonazistas’

Jovem Pan News
Postado em: 31/05/2020

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Alberto Nogueira, Carlos Petrocilo e Diego Garcia, da Folhapress

Integrantes de diferentes torcidas organizadas dos quatro grandes clubes de São Paulo (Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo) organizaram atos pró-democracia na avenida Paulista neste domingo (31).

As manifestações, que começaram pacíficas, acabaram em confronto com a Polícia Militar (PM) e apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

A via tem sido ponto de encontro de bolsonaristas aos domingos. Eles pedem principalmente o fim das medidas de distanciamento social durante a pandemia de Covid-19 e protestam contra o STF (Supremo Tribunal Federal) e o Congresso.

Neste fim de semana, havia o temor de um possível confronto dos corintianos com torcedores palmeirenses identificados com o presidente da República, o que não ocorreu.

Isso porque, no último domingo (24), alguns palmeirenses se reuniram na saída da estação Trianon-MASP do metrô e tiraram uma foto postada nas redes sociais com a legenda "Deus, Pátria, Família e Amigos! Odiamos gambá, estamos esperando vocês", em referência aos rivais.

Apesar das ameaças, os atos deste domingo começaram de forma pacífica, por volta das 12h, com gritos contra Bolsonaro inspirados em cânticos dos estádios.

A maioria dos presentes era torcedores do Corinthians, mas um grupo de fãs do Palmeiras, autodenominados antifascistas, também se manifestou no local. Havia ainda, em menor número, são-paulinos e santistas.

A Polícia Militar criou um cordão humano para tentar isolar um grupo de manifestantes pró-Bolsonaro dos torcedores, mas houve pelo menos dois picos de confusão após discussões entre as partes.

A tropa de choque da PM utilizou bombas de gás e balas de borracha para dispersar o movimento de torcedores. 
Estes revidaram com arremesso de pedras, lixeiras e rojões. Pelas imagens disponíveis até o momento, não houve repressão dos policiais ao grupo bolsonarista.

Na ação, um fotógrafo da agência Efe foi ferido na perna. Ainda não há registros oficiais de detidos e outros feridos.

Danilo Pássaro, 27, integrante da Gaviões da Fiel que organizou as manifestações, disse à reportagem que a confusão começou quando os torcedores já se preparavam para deixar o local.

"A polícia passou escoltando um grupo com camisetas de organizações neonazistas e outro com fardas de militares, dando simbolismo de intervenção militar. Passaram bem no meio da nossa manifestação quando estávamos indo embora. Isso iniciou o tumulto, e a polícia começou a atirar bombas e balas de borracha", afirmou.

Torcedores relataram que houve excesso dos policiais contra o grupo.

PM fala à Jovem Pan

O secretário-executivo da Polícia Militar do Estado de São Paulo, coronel Alvaro Camilo, afirmou em entrevista à Jovem Pan, na tarde deste domingo (31) que a corporação vai apurar se torcidas organizadas convocaram associados para o ato que aconteceu na avenida Paulista, neste domingo (31).

Desde às 13h, manifestantes e torcidas organizadas caminhavam pela avenida com palavras de ordem pró-democracia. Na altura do vão do Masp, onde os manifestantes que vestiam roupas e máscaras pretas se concentravam, começou a confusão que resultou no uso de bombas de gás e tiros de bala de borracha pela Tropa de Choque da PM.

“Não haveria problema torcida convocar suas pessoas para se manifestar desde que isso fosse dentro da democracia. Grupos se excederam e quebraram a ordem. Se alguma torcida for identificada nesta linha, que convocou associados para comparecer [ao ato] de forma mais agressiva, será responsabilizada”. disse o coronel.

Ele ainda afirmou que a investigação acontecerá ao longo desta semana. A manifestação terminou com, ao menos, três pessoas levadas ao 78º DP, que portagem “artefatos químicos, rojões e canivetes”, de acordo com a PM. Segundo Camilo, a PM agiu para restabelecer a ordem.

O secretário também mencionou, durante a entrevista, que houve a presença de pessoas ligadas “a grupos neonazistas” no local, mas não sou dizer de qual dos lados da Paulista. Ainda neste domingo, apoiadores do governo Bolsonaro também estavam na Paulista.

“Na realidade, pouco importa se foi neonazista ou não. O que foi, como foi e quem será responsabilizado, nós vamos identificar ao longo da semana. Não sei qual grupo foi, mas a ação da PM agiu para restabelecer a ordem. Não sei dizer se o grupo neonazista estava de um lado ou de outro. O que sei dizer é que a orientação que damos é para restabelecer a ordem”, disse.

Histórico do protesto

A mobilização política de torcedores começou a ganhar força desde o último dia 9 de maio, quando um grupo de cerca de 40 corintianos, com faixas a favor da democracia, se manifestou em frente ao Masp. A presença deles intimidou grupos pró-Bolsonaro, que inicialmente haviam marcado um ato perto do museu.

Em outros estados, como Rio de Janeiro e Minas Gerais, torcedores que se autodenominam antifascistas convocaram manifestações a favor da democracia e contra Bolsonaro.

No Rio de Janeiro, na orla de Copacabana, torcedores de uma organizada chamada Fla Antifascista faziam um protesto pacífico na manhã deste domingo (31) quando encontraram membros de uma manifestação a favor de Bolsonaro.

Os dois grupos se estranharam, e a polícia utilizou spray de pimenta para dispersar os torcedores flamenguistas. Depois, um outro grupo, que protestava contra o racismo, foi às vias de fato com bolsonaristas em Copacabana.

Os defensores do governo entoavam gritos que questionavam a gravidade da pandemia e o associavam a uma ditadura comunista. A manifestação continuou após a chegada da PM.

Relação entre as organizadas

Por mais que muitos desses grupos tenham apoio de dirigentes das torcidas organizadas, não é possível dizer que as representem como um todo. De forma geral, as uniformizadas têm evitado se posicionar politicamente, pelo menos de forma oficial.

A visão de presidentes e ex-presidentes de torcidas ouvidos pela Folha é a de que a maior parte dos seus integrantes apoia o governo Bolsonaro.

"Somos em 120 mil gaviões associados, cada qual com sua opinião, seja de direita, esquerda, centro e até o perdido, mas o objetivo é defender a democracia, porque todo cidadão brasileiro com lucidez sabe o que é o militarismo", disse Pássaro.

"Não vamos nos meter com a política, temos todos os lados dentro da Independente e cada um age como quiser", afirmou Henrique Gomes, o Baby, da Independente, a principal organizada do São Paulo.

A Mancha Alviverde, maior torcida do Palmeiras, time que tem a torcida de Jair Bolsonaro, escreveu em suas redes sociais neste sábado, em publicação sobre doação de equipamentos de higiene e máscaras: "O governo te esquece, mas a Mancha, não!".

Para o juiz Ulisses Augusto Pascolati Junior, à frente do Anexo de Defesa do Torcedor, do Juizado Especial Criminal em São Paulo, as manifestações dos torcedores são válidas desde que ocorra de forma pacífica e que não tenha referências antidemocráticas.

"O Estado não pode intervir enquanto os grupos estiverem manifestando opiniões políticas, o que é legítimo e constitucional", afirma o magistrado.

Nas redes sociais, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) disse em sua conta no Twitter que o Brasil deveria classificar grupos antifascistas como organizações terroristas -o antifascismo, no entanto, é uma posição política, e não uma entidade ou partido.

Ao postar no Twitter mensagem do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em que ele defende essa medida, o parlamentar brasileiro escreveu: "Aqui eles se fantasiam de torcida organizada, mas todos sabemos que querem é desordem, baderna e confronto com manifestações pacíficas".

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