Via JORNAL DA USP
Exigências rigorosas impostas pelas responsabilidades acadêmicas e atléticas podem contribuir para que atletas universitários cheguem a exaustão. Além disso, circunstâncias sociais, como festas e comemorações de final de jogos, também podem influenciar o uso de álcool e de outras substâncias, como a maconha. O consumo estaria ligado à tentativa de melhorar a sociabilização, o desempenho atlético e aliviar a tensão, especialmente após o término das competições. Essa foi a constatação de uma pesquisa feita com dados epidemiológicos coletados em 100 universidades de 27 capitais brasileiras, envolvendo 12.700 estudantes. Dos entrevistados que eram atletas universitários, 67,6% relataram fazer uso problemático de álcool e 10,7% de maconha; já os estudantes que também jogavam, mas de forma não-competitiva, tiveram uso problemático em 52,1% e 8,4%, respectivamente. Um artigo científico, com detalhes do estudo, foi publicado no Brazilian Journal of Psychiatry.
“Dois terços da amostra é um número extremamente preocupante porque o consumo de álcool no meio universitário costuma estar associado a outros problemas graves, como envolvimento com brigas, acidentes de trânsito, sexo desprotegido e "blackout alcoólico" que é a perda temporária da memória quando se consome bebida alcoólica em excesso, relata ao Jornal da USP o médico psiquiatra João Maurício Castaldelli-Maia, orientador de doutorado e mestrado do departamento de Psiquiatria, da Faculdade de Medicina (FM) da USP, e um dos autores do artigo.
Da amostra geral, dos 12.700 estudantes entrevistados, cerca de 7.978 não praticavam nenhum tipo de esporte; 4.317 faziam atividades físicas não-competitivas; e 416 eram de fato atletas que competiam pelas universidades. Quando foi perguntado aos atletas universitários sobre o risco de moderado a alto de uso de substâncias lícitas e ilícitas, 67,6% responderam que consumiam álcool, 14,0%, tabaco; 10,7%, cannabis; e 4,3%, outras drogas. Os atletas recreacionais pontuaram em 52,1% para álcool; 18,4% para tabaco; 8,4% para cannabis; e 7,4% para outras drogas.
Arthur Guerra, médico psiquiatra e especialista em diagnóstico e tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos ou histórico de abuso de substâncias como álcool e drogas, e um dos autores do artigo, considera o tema da pesquisa de extrema importância e fala com conhecimento de causa. Como universitário, foi atleta federado pela universidade e jogava em clubes esportivos. Hoje junto com sua carreira de médico e pesquisador continua participando de provas esportivas como a Ironman Triatlon, que consiste em, sequencialmente, nadar 3,8 quilômetros (km), pedalar 180 km e correr uma maratona 42, 125 km.