Nicola Pamplona, da Folhapress
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) informou nesta quinta (16) que 1,3 milhão de empresas brasileiras estavam com atividades suspensas ou encerradas na primeira quinzena de junho. Deste total, 522 mil disseram que a pandemia motivou a decisão.
Os dados fazem parte da primeira edição da pesquisa Pulso Empresa: Impacto da Covid-19 nas empresas, lançada pelo instituto na semana passada. A pesquisa detectou também que um terço das empresas brasileiras demitiu e só 13% tiveram acesso ao auxílio federal para pagar empregados.
A pesquisa identificou a existência de cerca de quatro milhões de empresas no país, dos quais 716 mil estavam fechadas definitivamente naprimeira quinzena de junho. O instituto, porém, não sabe quantas delas foram motivadas pela pandemia.
De acordo com os dados do IBGE, o impacto da crise atingiu todos os setores da economia, mas foi pior para o setor de serviços, que é o maior gerador de empregos do país. E foi mais profundo também entre as pequenas empresas.
Entre aquelas que encerraram definitivamente suas atividades, 99,8% (ou 715 mil) estão nessa categoria, que consideram negócios com até 49 empregados. O restante é formado por 1,2 mil empresas consideradas intermediárias (49 a 500 empregados). Nenhuma é de grande porte.
No grupo das 2,7 milhões de empresas que permaneceram em atividade, 70% relataram que a pandemia teve impacto geral negativo sobre os negócios. Para 13,6%, por outro lado, a pandemia trouxe oportunidades e teve um efeito positivo sobre a empresa.
O setor de serviços é o que registrou o maior percentual de empresas afetadas negativamente: 74,4%. Na indústria, foram 72,9%; na construção 72,6% e no comércio, 65,3%.
"Os dados sinalizam que a Covid-19 impactou mais fortemente segmentos que, para a realização de suas atividades, não podem prescindir do contato pessoal, têm baixa produtividade e são intensivos em trabalho", disse Alessandro Pinheiro, coordenador de Pesquisas Estruturais e Especiais em Empresas do IBGE.
São segmentos mais afetados pelas restrições à circulação de pessoas para tentar conter a pandemia, que começaram a ser adotadas na segunda quinzena de março e levaram indicadores da atividade no comércio, serviços e indústria a tombos recordes no mês seguinte.
As lojas voltaram a abrir na maior parte do país, incluindo Rio e São Paulo, mas o crescimento no número de casos vem levando governos a repensar o relaxamento das medidas de isolamento.
Segundo o IBGE, cerca 60% das empresas brasileiras mantinham, na primeira quinzena de junho, o mesmo número de funcionários que tinha antes da pandemia. Dentre as que reduziram o número de pessoal ocupado, 37,6% reportaram uma redução inferior a 25% do pessoal.
Também neste caso, o setor de serviços mostrou maiores dificuldades: 44% das empresas deste segmento demitiram mais da metade do quadro de empregados. No segmento de serviços administrativos e profissionais, 71% das empresas cortaram mais da metade da mão de obra.
Para 63,7% das empresas ainda em atividade ouvidas pelo IBGE, houve dificuldades em realizar pagamentos de rotina em relação ao período anterior a pandemia. Percentual semelhante (63%) enfrentou dificuldades para fabricar seus produtos ou atender clientes.
O instituto pesquisou ainda que tipo de medidas as empresas adotaram para enfrentar a crise. A grande maioria (91,1%) fez campanhas de prevenção e reforçou ações de higiene pessoal. Quase 40% adotaram trabalho domiciliar e 35,4% anteciparam férias de funcionários.
Para sobreviver à crise, um terço dos entrevistados diz ter alterado o método de entrega de produtos, buscando inclusive vendas online, e um quinto lançou ou passou a comercializar novos produtos e serviços.
Segundo o IBGE, 12,7% das empresas relataram ter conseguido uma linha de crédito emergencial para realizar o pagamento da folha salarial dos funcionários. Outras 44,5% empresas afirmaram ter adiado o pagamento de impostos.
A pesquisa identificou que apenas 32,4% dos empresários que adotaram medidas de reação à crise disseram não ter contado com apoio do governo. A percepção de que houve ajuda é maior entre as grandes empresas (55%) do que entre as pequenas (31,9%).
O dado reforça críticas sobre as dificuldades que o governo vem enfrentando para levar os pacotes de socorro às micro e pequenas empresas do país.