Ana Estela de Sousa Pinto, FOLHAPRESS
Uma vacina mais eficaz contra variantes do SarsCov2 consideradas preocupantes, como a P.1 (encontrada no Brasil), pode levar de 6 a 9 meses para ser produzida, afirmou nesta quinta (11) a AstraZeneca, empresa farmacêutica que desenvolveu com a Universidade de Oxford o imunizante usado hoje no programa do governo federal brasileiro.
A estimativa foi feita durante anúncio de resultados financeiros do laboratório em 2020. A necessidade de um imunizante mais adequado aos mutantes do coronavírus cresceu depois que dados iniciais mostraram proteção menor contra a variante B.1.351 (encontrada na África do Sul), em relação a casos leves e moderados da doença.
Mais pesquisas estão sendo feitas sobre a eficácia contra casos graves de Covid-19 e mortes e contra a variante P.1 -a expectativa é que o imunizante atual ofereça proteção satisfatória contra doença mais severa ou óbitos, afirmou nesta quarta (10) o grupo que aconselha a OMS (Organização Mundial da Saúde).
A organização decidirá na próxima segunda (15) sobre a inclusão da vacina de Oxford/AstraZeneca em sua lista de uso emergencial (UEL), necessária para a distribuição pelo mecanismo Covax –que distribuirá imunizantes para mais de 100 países, entre eles o Brasil.
Usado já em mais de 50 países, o produto é considerado um dos mais promissores para nações mais pobres, porque é mais barato e pode ser armazenado e distribuído mais facilmente que opções mais sofisticados, como as vacinas da Pfizer/BioNTech (já aprovada pela OMS) e da Moderna.
A falta de evidência sobre o efeito do produto sobre as novas variantes levou a África do Sul a suspender a aplicação da vacina até montar um ensaio clínico para observar sua eficácia em 100 mil pessoas, antes de escalar a aplicação. Segundo a OMS, a cautela faz sentido para países que tenham mais de uma vacina disponível, mas o imunizante de Oxford/AstraZeneca deve ser usado sem restrições se for o único disponível, para proteger a população mais vulnerável.
Nesta quinta, a seção europeia da OMS afirmou que a variante B.1.351 já foi encontrada em 19 países do continente e, embora haja pouco indício de transmissão comunitária, sua participação no aparecimento de novos surtos é crescente.
A adaptação da vacina de Oxford/AstraZeneca a variantes do Sars-Cov-2 é mais demorada que a de alternativas como as da Pfizer ou da Moderna, por causa da tecnologia utilizada na produção. O imunizante de Oxford exige que células sejam cultivadas por semanas, alongando o prazo de produção, enquanto as outras duas vacinas usam a tecnologia de mRNA.
O chefe de pesquisa e desenvolvimento da AstraZeneca, Mene Pangalos, afirmou ao jornal britânico Financial Times que a diferença de tecnologia implica um atraso de até 6 semanas na obtenção de uma vacina adequada às variantes.
A AstraZeneca divulgou um aumento de 9% nas receitas de 2020, para US$ 26,6 bilhões (R$ 143 bi). As vendas da vacina Covid-19 representaram US$ 2 milhões (R$ 10,8 mi), segundo a empresa, e novos medicamentos representaram mais da metade da receita total. O lucro anual antes de impostos foi de US$ 3,9 bilhões (R$ 21 bilhões).