Erick Rodrigues
Seja no cinema ou na televisão, expansões de universos criativos nem sempre são fáceis, especialmente se não são diretamente feitas pelas mentes responsáveis pelas ideias originais. Entre outras coisas, é necessário criar uma equação perfeita entre a apresentação de uma nova proposta e o respeito às referências. Depois da saga desenvolvida por George Lucas, "Star Wars" ganhou novos rumos nas telonas, ainda que eles não tenham agradado alguns fãs, e, naturalmente, o desejo de continuar lucrando com essas tramas não ia parar por aí. A chegada do streaming Disney+ trouxe a série "The Mandalorian", um produto promissor para expandir ainda mais as fronteiras dessa história.
Ao invés de focar na luta entre o Lado Sombrio da Força e a resistência, como acontece nos filmes, a série se interessa por retratar personagens e tramas que sempre estiveram em segundo e até terceiro planos nos roteiros cinematográficos. Criada por Jon Favreau, que já trabalhou em longas da Marvel e live-actions de clássicos Disney, a história apresenta um caçador de recompensas mandaloriano contratado para capturar alvos vivos ou mortos.
Interpretado por Pedro Pascal, que, pelo menos no primeiro episódio, só aparece mascarado, o caçador de recompensas recebe uma missão importante de um grupo ligado ao antigo Império. Cercado de segredos, ele descobre que deve capturar e, se necessário, eliminar um alvo desconhecido.
Contando apenas com a localização da criatura misteriosa, sem qualquer informação complementar, o mandaloriano viaja a um lugar isolado e fortemente protegido. Lá, tenta organizar uma estratégia para capturar o alvo, mas é surpreendido por um androide que também atua como caçador de recompensas. No fim do episódio, o espectador tem uma surpresa ao descobrir qual é a vítima do serviço do protagonista.
O grande acerto de "The Mandalorian" é a escolha por inverter o foco principal de atenção do universo criado por George Lucas. A história da série sinaliza estar mais interessada na rotina periférica da disputa entre o Lado Sombrio da Força e os seguidores da resistência comandada pela família Skywalker. Esse submundo de mercenários e caçadores de recompensas, afastado das disputas políticas da galáxia, pode despertar um interesse novo no espectador.
Ouvi críticas sobre o fato de o primeiro episódio ter sido "econômico" em relação à proposta que deve ser desenvolvida pela produção, mas confesso que gosto disso. Focada apenas em introduzir o protagonista, sem deixar claro quantos núcleos vão ser apresentados e até como a trama vai caminhar, a série consegue instigar o público a esperar pelo próximo episódio.
Respeitando muito a saga original de George Lucas, a ponto de algumas cenas parecerem tiradas dos primeiros filmes, "The Mandalorian" também pode enriquecer esse universo ao retratar criaturas que caminham por uma zona mais cinzenta, intermediária entre a luz e a escuridão. Essa era, por exemplo, a proposta de "Os Últimos Jedi", que foi criticada por alguns fãs dos longas clássicos. Agora, no entanto, por usar essa abordagem em personagens menos intocáveis, do ponto de vista dos admiradores da saga, a produção do streaming pode ter mais sucesso.
"The Mandalorian" parece estar no caminho certo. A promissora expansão de universo a partir do caçador de recompensas pode trazer alguma boa novidade ao mundo criado por George Lucas retratando essa periferia da trama original, formada por personagens que sobrevivem em uma linha tênue entre a escuridão e a resistência.
THE MANDALORIAN (primeiro episódio)
ONDE: Disney+ (serviço de streaming ainda inédito no Brasil)
COTAÇÃO:★★★★ (ótimo)