Por Antônio Carlos Souza de Carvalho
É possível imaginar um mundo em que as pessoas trabalhem menos horas por dia ou até menos dias por semana? Essa questão tem ganhado força nos debates sobre a modernização das relações de trabalho. Com o avanço tecnológico e as novas dinâmicas do mercado, muitos se perguntam: o que fariam se a jornada fosse de segunda a quinta ou se o expediente terminasse às 16h em vez das 18h?
Hoje, a jornada de trabalho tradicional, baseada no regime da CLT, é das 9h às 18h, com uma pausa de uma hora para o almoço. No entanto, essa lógica tem suas raízes em um modelo antigo. Com as mudanças no mercado e as demandas por uma melhor qualidade de vida, muitas iniciativas estão surgindo para repensar esse formato.
Uma dessas propostas é a "Short Friday", adotada em diversos países. Nessa modalidade, os profissionais têm folga ou trabalham apenas meio-período nas sextas-feiras. O modelo, que visa aumentar o bem-estar sem sacrificar a produtividade, já está em prática em empresas ao redor do mundo .
Outro conceito em teste é a semana de trabalho de quatro dias. Experimentos estão sendo realizados em diversas partes do globo, inclusive no Brasil, onde algumas empresas já adotaram essa ideia. O argumento é simples: se as segundas-feiras, por exemplo, apresentam menor movimentação, por que não transformá-las em um dia de descanso?
No Brasil, mais de um milhão de pessoas já manifestaram apoio ao projeto que visa proibir a jornada 6x1, na qual o trabalhador tem apenas um dia de descanso após seis dias consecutivos de trabalho. Esse modelo, além de ser exaustivo, não contribui para a qualidade de vida e o bem-estar dos empregados.
Uma pesquisa recente aponta que 78% dos trabalhadores acreditam ser possível manter a qualidade do trabalho com um dia livre a mais na semana. Isso evidencia que a produtividade não está diretamente relacionada ao número de horas trabalhadas, mas sim a diversos fatores, como motivação, propósito e tempo de descanso.
A discussão sobre a redução da jornada de trabalho não é apenas uma questão de números. Trata-se de proporcionar um ambiente em que o trabalhador tenha tempo para se dedicar a outras atividades essenciais, como o cuidado pessoal, descanso e momentos com a família, sem que isso comprometa a eficiência no trabalho. A produtividade, afinal, deve ser medida pela qualidade, não pela quantidade de horas dedicadas.
Antônio Carlos Souza de Carvalho é cientista político, especialista em economia do trabalho pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e sócio do escritório Souza de Carvalho Sociedade de Advogados