Apesar de o celibato ser uma norma da Igreja Católica, relatos mostram que durante a história vários padres abriram mão do sacerdócio para se casar e ter filhos. E esse não é um fato do passado. No Brasil, por exemplo, já são cerca de sete mil clérigos que deixaram a batina de lado, o que fez surgir até um Movimento Nacional das Famílias dos Padres Casados (MFPC).
Segundo a pesquisadora Maria Nilsa de Almeida, do Departamento de Psicologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, não existe a possibilidade de se tornar um “ex-padre”, pois uma vez ordenado ele será clérigo para sempre, mesmo quando casado e proibido de exercer funções como celebrar missas, batizados e casamentos.
A exclusão ministerial dos padres casados levanta discussões que também se arrastaram por toda a história, por meio de diversos movimentos como o MFPC, por exemplo. Os padres lutam para que, mesmo casados, possam exercer suas funções, que o celibato seja opcional e pela valorização do papel da mulher na igreja.
Maria Nilsa revelou os motivos que levaram os padres a abdicarem do ministério no estudo de doutorado Crise e solidão no exercício do ministério presbiteral: relatos de padres casados. Ela entrevistou dez padres que estão casados há mais de cinco anos e as respostas revelaram que a solidão, o medo do abandono e do envelhecimento estão entre os principais motivos.
A pesquisadora conta que esse medo, especialmente do abandono, vem da insegurança que permeia a vida desses sacerdotes, uma vez que muitas dioceses nem possuem casas para acolher padres idosos ou doentes. “Eles ficam na casa de familiares ou amigos. Esse é um grande motivo de insegurança.”
Maria Nilsa alerta que esses fatores compõem um itinerário de experiências comuns a todos os indivíduos que pode guiar ao caminho do autoconhecimento. “A solidão pode levar qualquer pessoa a uma crise; o que aconteceu com os sujeitos da pesquisa pode acontecer com todos nós”, revela.
A tese foi defendida no ano passado e contou com a orientação da professora Francirosy Campos Barbosa, do Departamento de Psicologia da FFCLRP.
Fonte: Jornal da USP