FOLHAPRESS
A Organização das Nações Unidas (ONU) no Brasil divulgou uma nota pública em que contradiz a negação da existência de racismo no Brasil feita pelo vice-presidente Hamilton Mourão após o assassinato de Beto Freitas por seguranças do Carrefour em Porto Alegre.
A nota começa com uma manifestação de solidariedade à família da vítima e, em seguida, aponta que a morte de Freitas "é um ato que evidencia as diversas dimensões do racismo e as desigualdades encontradas na estrutura social brasileira".
A publicação segue dizendo que "milhões de negras e negros continuam a ser vítimas de racismo, discriminação racial e intolerância, incluindo suas formas mais cruéis e violentas". A organização também afirma que o debate sobre a eliminação do racismo é "urgente e necessário".
No Dia da Consciência Negra, Mourão lamentou a morte de Freitas, mas não viu racismo na ação e negou a existência de racismo no Brasil, atribuindo o caso ao despreparo dos seguranças.
Neste sábado, o presidente Jair Bolsonaro contestou, durante a cúpula do G20, o debate sobre racismo no país dizendo que há quem queira alimentar o conflito e o ódio entre a população. Ele não comentou especificamente sobre o assassinato de Beto Freitas.
"O Brasil tem uma cultura diversa, única entre as nações. Somos um povo miscigenado", afirmou Bolsonaro. "Foi a essência desse povo que conquistou a simpatia do mundo. Contudo, há quem queira destruí-la, e colocar em seu lugar o conflito, o ressentimento, o ódio e a divisão entre raças, sempre mascarados de ´luta por igualdade´ ou ´justiça social´. Tudo em busca de poder", disse.
Ao final da nota, a ONU "insta as autoridades brasileiras a garantirem a plena e célere investigação do caso e clama por punição adequada aos responsáveis, por reparação integral a familiares da vítima e pela adoção de medidas que previnam que situações semelhantes se repitam.
Leia a íntegra da nota da ONU:
A ONU Brasil manifesta solidariedade à família de João Alberto Silveira Freitas, que foi brutalmente agredido na noite de 19 de novembro de 2020 e veio a óbito em seguida, na cidade de Porto Alegre, Rio Grande do Sul.
A violenta morte de João, às vésperas da data em que se comemora o Dia da Consciência Negra no Brasil, é um ato que evidencia as diversas dimensões do racismo e as desigualdades encontradas na estrutura social brasileira. Milhões de negras e negros continuam a ser vítimas de racismo, discriminação racial e intolerância, incluindo as suas formas mais cruéis e violentas. Dados oficiais apontam que a cada 100 homicídios no país, 75 são de pessoas negras. O debate sobre a eliminação do racismo e da discriminação racial é, portanto, urgente e necessário, envolvendo todas e todos os agentes da sociedade, inclusive o setor privado.
A proibição da discriminação racial está consagrada em todos os principais instrumentos internacionais de direitos humanos e também na legislação brasileira. A ONU Brasil insta as autoridades brasileiras a garantirem a plena e célere investigação do caso e clama por punição adequada dos responsáveis, por reparação integral a familiares da vítima e pela adoção de medidas que previnam que situações semelhantes se repitam.
Convida também toda a sociedade brasileira, a partir da Campanha Vidas Negras, a participar ativamente da construção de uma sociedade igualitária e livre do racismo.
Vidas negras importam e não podem ser deixadas para trás.