22 de Novembro de 2024
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Obesidade triplica complicações por Covid, mostram estudos

Foto: Reuters/Brendan Mcdermid/direitos reservados
Postado em: 27/01/2022

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Samuel Fernandes, FOLHAPRESS


A obesidade já é reconhecida como um fator de risco para a Covid-19 e também para outras infecções virais. Novos estudos, no entanto, procuram entender melhor os impactos que o acúmulo excessivo de gordura e doenças associadas causam para diferentes faixas etárias -e também os benefícios que intervenções médicas para redução de peso trariam na diminuição de complicações.


No Brasil, o excesso de peso já atinge grande parcela da população e vem crescendo com o passar do tempo. Dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde), realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), mostram que, em 2019, a obesidade foi registrada em cerca de 26% dos brasileiros com mais de 20 anos. Em comparação, em 2003, esse percentual era de 12%.


Uma dessas pesquisas foi publicada recentemente na revista científica Jama Surgery. Assinado por pesquisadores da Cleveland Clinic, nos Estados Unidos, o estudo foi composto por 2.958 pessoas que tinham passado por cirurgia para redução de peso e foram acompanhadas durante a pandemia.


Além desses, havia o grupo controle, composto por mais de 8.000 indivíduos que eram obesos e não tinham passado por cirurgia.


A intenção da pesquisa era comparar os dois grupos para entender se a intervenção cirúrgica para redução de peso poderia diminuir os riscos do coronavírus.


Os pesquisadores centraram suas análises em quatro pontos: resultado positivo para Covid-19, hospitalizações, necessidade de oxigenação suplementar e situações graves com a doença (internação em UTI, ventilação mecânica ou morte).


Nos resultados, foi observado que o índice de testes positivos para Covid foi semelhante nos dois grupos, mas o agravamento pela doença foi consideravelmente maior naqueles que não tiveram redução de peso.


Os desfechos mais graves, como internação em UTI, necessidade de uso de ventilação mecânica ou morte, atingiram três vezes mais o grupo controle. A necessidade de oxigenação suplementar teve uma taxa semelhante, enquanto a hospitalização registrou quase o dobro de registros nesse grupo.


Feito por pesquisadores brasileiros e publicado na revista The Lancet Regional Health Americas, um segundo estudo recente aprofundou as descobertas sobre a obesidade e a Covid se concentrando na divisão por faixas etárias e também na análise de doenças associadas ao acúmulo excessivo de peso.


O trabalho comparou obesidade, doenças cardiovasculares e diabetes em três grupos etários. Dessa forma, foi possível entender os riscos que uma pessoa com essas comorbidades tem de desenvolver quadros mais críticos de Covid, em contraste com aqueles que, na mesma faixa de idade, não as têm.


Nas análises, os pesquisadores identificaram que jovens com diabetes, complicações cardiovasculares e obesidade tinham sete vezes mais riscos de morrer ao contraírem Covid-19 ao comparar com pessoas da mesma faixa etária que não tinham essas doenças prévias.


Para os idosos, esses riscos aumentavam bem menos as chances de morrer com o coronavírus, indicando que a obesidade e doenças associadas a ela têm maior impacto nos mais jovens.


"Ao olhar jovens com comorbidades contra jovens sem comorbidades, [aqueles] estão muito associados com risco enorme de morrer. Idosos com comorbidades e sem comorbidade quase não têm diferença porque o fato de eles serem idosos já aumenta [a chance de óbito]", explica Helder Nakaya, pesquisador sênior do Einstein e um dos autores da pesquisa.


Ao identificarem tal aspecto, os autores defendem a necessidade de priorizar pessoas jovens que tenham essas comorbidades durante campanhas de vacinação, a fim de reduzir a mortalidade causada por doenças como a Covid-19.


"Esse trabalho talvez ajude a guiar políticas públicas no sentido de que mostra cientificamente que esse é um grupo de risco relevante, que merece ser priorizado em futuras campanhas de vacinação", diz Nakaya.


O entendimento de que a obesidade agrava quadros de infecções já é algo bem consolidado. Segundo Ricardo Cohen, coordenador do Centro de Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, essa percepção provavelmente data da pandemia de gripe espanhola, que ocorreu no início do século 20.


"Morria quem tinha mais peso", diz Cohen.


No entanto, ainda faltam estudos que consolidem por que o acúmulo de gordura colabora para essas complicações. Segundo Nakaya, uma possível forma de entender esse padrão é por causa do processo inflamatório.


O pesquisador explica que "a obesidade é considerada uma doença inflamatória, então, se você pega um obeso, você vai ver níveis basais de inflamação aumentados". Ao juntar esse organismo já inflamado com outra doença que eleva ainda mais o processo inflamatório, como é a Covid, "isso pode causar morte, porque a pessoa inflama muito rápido".


Outra explicação possível parte de um estudo, também assinado por Nakaya, que consistiu na análise da autópsia de 14 pulmões de pacientes que haviam falecido por Covid-19 e tinham obesidade, diabetes ou hipertensão. Além desses, também houve outros quatro pulmões para um grupo controle.


"As pessoas com obesidade tinham alterações de genes no pulmão que provavelmente explicavam por que elas morriam", afirma, sobre uma possível explicação genética de por que a obesidade piora a Covid.


Mesmo assim, ele ressalta, essa descoberta não é necessariamente um indicativo que possa ser replicado para outros indivíduos, pois o estudo "foi feito com um número muito menor de pessoas".


Para Cohen, é importante entender que o tratamento para obesidade -principalmente quando ela é associada a outras doenças, como diabetes e hipertensão- é essencial para a pandemia que vivemos e para outras que poderemos enfrentar.


"Se tivesse controle da diabesidade [junção da diabetes e obesidade], a gente certamente teria passado pela pandemia de Covid-19 e pelas próximas pandemias com muito mais tranquilidade", afirma.


Ele afirma que, em 2019, aconteceram 70 mil cirurgias bariátricas, mas isso só representa 2% da população que deveria ser operada. O médico também cita o surgimento de medicamentos que tratam a obesidade, mas ainda com pouca adesão no país.

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