Diego Garcia, FOLHAPRESS
Os dados do emprego no Brasil do trimestre encerrado em agosto mostraram cenário preocupante, com recordes negativos em praticamente todos os indicadores do IBGE, tanto na comparação com maio - o pior momento da pandemia no país - quanto em relação ao mesmo período do ano passado.
A população desocupada atingiu a taxa recorde de 14,4%, totalizando 13,8 milhões de pessoas sem trabalho - uma alta de 8,5% frente a maio e 9,8% quanto a agosto de 2019. Mas, ao mesmo tempo, a população ocupada também caiu de forma expressiva.
Desde maio, são 4,3 milhões de pessoas a menos sem trabalho, que provavelmente, avalia o IBGE, perderam seus postos, uma queda de 5%. Já na comparação anual, são 12 milhões de brasileiros que deixaram a população ocupada, alta de 12,8%.
Segundo a analista da pesquisa, Adriana Beringuy, a população ocupada está diminuindo provavelmente por processos de dispensa.
"O fechamento de estabelecimentos, a baixa demanda em alguns setores associados à retração da economia afetam o processo de prestação de serviços", explicou.
O volume de trabalhadores domésticos atingiu o menor número da série histórica, com 4,6 milhões de pessoas, retração de 9,4% (473 mil pessoas) no trimestre e 27,5% (1,7 milhão de pessoas) no ano.
Ao mesmo tempo, cresceram outros indicadores que mostram um retrato de restrição no mercado de trabalho.
A população subutilizada aumentou 20% em um ano, o que equivalem a 5,6 milhões de brasileiros a mais trabalhando menos horas do que gostariam. No total, hoje, 33,3 milhões estão nessa situação. Desde maio, o aumento foi de 3 milhões.
Os desalentados, ou seja, que desistiram de procurar emprego por acreditarem que não vão encontrar uma vaga, alcançaram 5,9 milhões. São 440 mil a mais desde maio e 1,1 milhão desde agosto do ano passado.
Tanto os subutilizados quanto os desalentados são recordes na série histórica.
A população fora da força de trabalho - que não estava trabalhando nem procurava por trabalho - foi recorde, com alta de 5,6% (4,2 milhões de pessoas) em relação ao trimestre anterior e 21,9% (14,2 milhões) comparado ao mesmo período do ano passado.
Thiago de Moraes Moreira, do Ibmec, acredita que o governo deve elaborar políticas públicas específicas para as micro e pequenas empresas refinanciarem suas dívidas, senão o impacto no emprego tende a ser muito maior, o que pode fazer a taxa de desemprego explodir, avalia.
"O governo precisa tentar suavizar essa deterioração do mercado de trabalho. Se nada for feito, essa taxa de desemprego pode iniciar 2021 acima de 20%. Isso do ponto de vista social é bastante preocupante, sem falar na possibilidade de uma segunda onda de Covid no começo de 2021, o que seria realmente um cenário catastrófico", disse.
Rodolpho Tobler, economista do FGV Ibre, chama a atenção para o grande contingente fora da força de trabalho e lembrou que, a partir de setembro, o auxílio emergencial sofreu redução pela metade, indo de R$ 600 para R$ 300.
"Essas pessoas fora da força não estão buscando emprego, está muito difícil procurar emprego, também tem a questão da subutilização aumentando, as pessoas trabalhando menos do que gostariam, e tudo isso nos próximos meses deve fazer pressão na taxa de emprego, ainda mais com a flexibilização aumentando e a questão do auxílio", disse Tobler.
Para ele, a partir de setembro, a redução do benefício deve pressionar ainda mais mais orçamento das pessoas, e isso já começou a ser sentido em agosto.
"Já pode ter começado a dar impacto pois vemos uma procura maior. Difícil separar quanto desse aumento no desemprego é pela flexibilização ou pelo auxílio, mas vejo um impacto, as pessoas se preocupando, pois estava previsto que diminuiria em setembro, e aí quando isso chegar elas gostariam de estar empregadas para não sofrerem tanto", afirmou.
Segundo o IBGE, as comparações com maio mostra dois trimestres em contexto de pandemia, mas a análise com o ano anterior apresenta um momento sem a Covid-19 no país, razão que explica as quedas mais acentuadas.
Praticamente todos os ramos de atividades, com exceção da agricultura, permanecem em queda devido a um provável processo de dispensa, de acordo com o IBGE.
Na comparação trimestral, o setor de alojamento e alimentação sofreu redução de 15,1%, com 661 mil pessoas a menos. Outros serviços reduziu 11,6% (510 mil pessoas), Serviços domésticos caiu 9,4% (477 mil), Transporte, armazenagem e correio despencou 11,1% (507 mil pessoas) e Indústria reduziu 3,9% (427 mil pessoas).
Outros grupos que sofreram redução foram comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (4,7%, ou 754 mil pessoas), Informação, comunicação e atividades financeiras, imobiliárias, profissionais e administrativas (3,3%, ou 337 mil pessoas) e Administração pública, defesa, seguridade social, educação, saúde humana e serviços sociais (4,4%, ou 740 mil pessoas).
Na análise anual, sem o contexto de pandemia, as maiores perdas em números gerais foi no segmento de Comércio, reparação de veículos automotores e motocicletas (2,4 milhões de pessoas, redução de 13,6%).
Já em dados percentuais, os setores de Alojamento e alimentação (31,4%, ou menos 1,7 milhão de pessoas), Outros serviços (22,5%, ou menos 1,1 milhão de pessoas) e Serviços domésticos (27,5%, ou menos 1,7 milhão de pessoas) acabaram sendo os mais prejudicados.
"Quando olhamos vagas perdidas, o setor de serviços é predominante, com a maioria dos segmentos negativos, pois dependem de presença física e aglomeração. O setor de serviços emprega bastante, e enquanto não controlar pandemia e tiver vacina fica dificil imaginar o setor recuperando, então não deve ser rápido", acrescentou Rodolpho Tobler.