Carlos Petrocilo, FOLHAPRESS
O jornalista Márcio Guedes, 73, esteve no centro de um debate político após comentar o jogo entre a seleção brasileira e o Peru, nesta terça-feira (13), na TV Brasil, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 2022.
Guedes é funcionário da Empresa Brasil de Comunicação, responsável pela emissora estatal. Ele foi escalado de última hora, assim como toda a equipe, para a cobertura da vitória do Brasil por 4 a 2.
A CBF comunicou a pouco mais de uma hora do início do jogo que havia adquirido os direitos de transmissão e que a partida seria exibida na TV pública e em seu site. Até então, estaria disponível apenas em serviços pagos de streaming.
Assim, a entidade atendeu a um pedido do secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fabio Wajngarten, para que a TV Brasil realizasse a exibição.
Durante a transmissão, o narrador André Marques fez saudações ao presidente Jair Bolsonaro em duas oportunidades.
"Um abraço especial para o presidente Jair Bolsonaro, que está assistindo ao jogo", disse Marques no primeiro tempo. Ao que Guedes emendou um comentário sobre o fato de o presidente torcer para o Palmeiras em São Paulo e para o Botafogo no Rio de Janeiro.
Entre as críticas que Guedes recebeu, a de mais repercussão foi a do jornalista José Trajano. Os dois se conheceram no colégio São Bento, no Rio de Janeiro, e trabalharam juntos por diversas ocasiões, entre elas no jornal Correio da Manhã e na ESPN Brasil.
Nesta quarta-feira, Trajano publicou um texto no portal Diário do Centro do Mundo, no qual diz que o ex-colega jogou sua carreira no lixo.
"Sua pusilanimidade na transmissão do jogo de ontem (aliás, quanto pagaram e quem pagou pela transmissão?) ao passar pano para o Capitão Corona dizendo com satisfação e orgulho os times pelos quais o tresloucado torce me enojou", escreveu.
Guedes rebateu em entrevista à Folha de S.Paulo: "O que ele postou em relação a mim foi de uma indignidade total. É um patrulhamento ideológico inaceitável. Isso estimula o ódio das pessoas, estraga as relações humanas".
"Eu disse uma coisa absolutamente neutra. E para o Trajano, quem fala isso é indigno. Isso é um patrulhamento indecoroso, estou revoltado. Se fosse outra pessoa até não daria bola, mas em relação ao Trajano é uma grande decepção, uma prova de intolerância total. Isso, para mim, é doença mental", completou.
Outros jornalistas e ex-colegas de Guedes na ESPN, como Mauro Cezar Pereira e Flávio Gomes, também criticaram a atuação do comentarista, que nas redes sociais já fez várias publicações defendendo Bolsonaro e atacando políticos de esquerda.
O repórter Tino Marcos, da TV Globo, elogiou o ex-comentarista da emissora num primeiro momento. Ele lembrou que foi Márcio Guedes quem o recepcionou na empresa, em 1985, e classificou no Twitter como "nostalgia boa ouvir a voz mansa e inteligente do Márcio Guedes comentando um jogo".
Mais tarde, porém, Tino disse ter ficado desapontado. "Muito além de contra ou a favor, foi feio. Inoportuno, impróprio, lamentável. Fico e sigo com a lembrança do colega que foi sempre gentil comigo e uma voz marcante pra quem consumia futebol há uns 30, 40 anos, como eu", escreveu.
"Cada pessoa revela o seu caráter numa hora dessa. Estou pouco me lixando, sei o que o sou, tenho 51 anos de jornalismo esportivo com comportamento ético irrepreensível. Deixe os cães ladrarem, é só isso", afirmou Márcio Guedes sobre as reações.