Lucas Marchesine e Raquel Lopes, FOLHAPRESS
O Proarmas, maior grupo armamentista do Brasil, apoiará 80 candidatos nesta eleição, entre os quais policiais com processos abertos sob acusação de homicídio e violência contra a mulher, entre outros crimes.
A entidade se intitula um movimento pelo "direito fundamental" da legítima defesa. Em comum, todos os candidatos são favoráveis à reeleição de Jair Bolsonaro (PL) -entusiasta do armamento da população.
Serão 33 candidatos para deputado estadual, 31 para deputado federal, 10 para senador e 6 para governador.
A maioria concorre pelo PL, mesmo partido do presidente. Desse total, 25 possuem processos abertos na Justiça, ou 31% do total. Os dados são do Divulgacand, do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Um dos candidatos é o delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP), que concorre a deputado federal por São Paulo.
O Conselho da Polícia Civil de São Paulo aprovou, em julho deste ano, a demissão do delegado em razão da divulgação nas redes sociais de um vídeo que, conforme entenderam os delegados da Corregedoria da instituição, faz apologia dos crimes de estupro e racismo.
A Polícia Civil disse, em nota, haver prazo de 30 dias para o delegado-geral, dentro de sua alçada, aplicar eventuais penas ou pedir que outras instâncias o façam, conforme suas competências.
Bilynskyj também teve a arma retirada pela polícia após a publicação de conteúdo nas redes sociais em que aparece atirando, atacando a esquerda e chamando seguidores a participar de atos em apoio a Bolsonaro no feriado de 7 de Setembro.
Em nota, ele disse ser falsa a afirmação de que o Conselho da Polícia Civil aprovou a demissão dele por compartilhar um vídeo com apologia dos crimes de estupro e racismo.
"Em nenhum momento fui acusado desses crimes, nem administrativamente nem criminalmente. A decisão do conselho considera unicamente que o compartilhamento do meme é comportamento reprovável punível com demissão", afirmou.
Em relação ao recolhimento da arma e do distintivo, disse que a polícia o acusa de atos antidemocráticos num processo que não existe e não foi citado.
Já o Sargento Gonçalves (PL-RN) é policial militar e disputa uma vaga para deputado federal pelo Rio Grande do Norte. Ele responde a três processos por homicídio na Comarca de Natal. Segundo Gonçalves, todos os óbitos foram em confronto policial.
"Trata-se de criminosos que praticaram roubos e, ao se depararem com a viatura, decidiram reagir à abordagem. Nesses 18 anos de atividade policial, e consequentemente com o direito do porte de arma de fogo, nunca me envolvi em ocorrência na condição de acusado. Nunca puxei a arma de fogo para um cidadão de bem", disse, em nota.
Há também o sargento Rui (PL-PB), candidato a deputado estadual pela Paraíba. Ele responde a um processo na Justiça estadual sob acusação de violência contra a mulher. Há uma outra ação na Vara Militar por prevaricação. Ele chegou a responder à Folha por meio do WhatsApp, mas apagou os textos em seguida.
Quem também é apoiado pelo Proarmas é o irmão da primeira-dama Michelle Bolsonaro. Eduardo Torres (PL-DF) disputa uma vaga na Câmara do Distrito Federal. Durante a pandemia, ele recebeu R$ 3.600 de auxílio emergencial. Na época, Torres prestava serviços para a presidência da Caixa como fotógrafo. Ele declarou R$ 425 mil em bens. A reportagem entrou em contato com ele, mas não houve resposta.
Segundo o Proarmas, são os coordenadores estaduais que escolhem os candidatos a serem apoiados. O critério é o comprometimento com a pauta armamentista.
O grupo atua, principalmente, em benefício dos CACs (caçadores, colecionadores e atiradores). No entanto, o Proarmas respondeu que nem todos os candidatos fazem parte de uma das categorias.
Em nota, a entidade afirmou também que os nomes dos candidatos passaram por avaliação, não havendo nenhuma pessoa condenada ou com a ficha suja. "Todo suposto ilícito deve ser apurado e submetido ao devido processo legal. No entanto, sem acesso aos autos não podemos nos manifestar no caso concreto", disse, em referência aos casos citados nesta reportagem.
Ao todo, os candidatos apoiados pelo Proarmas declaram R$ 165 milhões em bens. Os mais ricos são os candidatos a senador por Rondônia Jaime Bagatolli (PL-RO), empresário do agronegócio que declarou quase R$ 56 milhões em patrimônio, e o ex-lutador Wanderlei Silva (PP-PR), que tenta uma vaga de deputado federal pelo Paraná e tem um patrimônio declarado de R$ 22 milhões.
O Proarmas ganhou notoriedade na esteira da defesa do armamentismo feita por Bolsonaro. Marcos Pollon, presidente do grupo, concorre a uma vaga a deputado federal por Mato Grosso do Sul. Ele é ligado ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente.
O grupo, inclusive, apoia vários ex-integrantes do governo, como os ex-ministros Gilson Machado (PL-PE) e Rogério Marinho (PL-RN), além dos secretários Mário Frias (PL-SP), André Porciuncula (PL-BA) e Jorge Seif (PL-SC). Marinho também tem processos abertos, entre os quais por improbidade administrativa e dano ao erário. Ele foi procurado, mas disse apenas que não havia sido condenado. Declarou ainda que o advogado iria entrar em contato, o que não ocorreu até a publicação desta reportagem.
Como o jornal Folha de S.Paulo revelou em junho, o Proarmas referenda nomes em todos os estados brasileiros e quer formar um partido político. O grupo oferece apoio a candidatos que querem disputar uma vaga no Congresso em troca de cargos dentro dos gabinetes. Pollon disse, em um vídeo publicado no YouTube, em abril, querer "conduzir a pauta de armas" de dentro dos gabinetes.
"O que que eu pedi? O que eu pedi não, qual é a exigência do Proarmas para todos os candidatos que apoiamos? Uma vaga no gabinete. Para quê? Para ter o monitoramento para que esse tipo de coisa não aconteça. Vai ter um cara nosso lá monitorando e fazendo o briefing de como é que a ideologia e o que o Proarmas pensa dessa pauta", afirmou ele no vídeo.