Por José Simões
Morreu ontem, aos 89 anos, na cidade de São Paulo o diretor teatral Antunes Filho. Depois de onze dias internado lutando contra um câncer no pulmão.
Antunes Filho revolucionou a cena moderna brasileira com montagens inesquecíveis como Macunaíma, Romeu e Julieta, Paraíso Zona Norte, dentre outras. Para além da cena ele, também, revelou e formou uma centena de grandes interpretes – Giulia Gam, Luís Melo, Juliana Galdino, dentre milhares de outros atores que, ainda, fazem parte da cena paulista e brasileira.
Antunes Filho, de acordo com os amigos que estavam próximos, até o último momento estava pensando em cenas para o palco e falando do teatro. O teatro era a sua vida.
O teatro brasileiro sofre uma enorme perda. Morre uma referência corajosa e defensora implacável do teatro.
Eis algumas palavras daquele que acostumamos a chamar de mestre, em entrevista ao jornalista Dirceu Alves Jr, da revista Veja:
“A arte dramática é muito menos pesada do que se fala. Teatro é tudo. O que funciona no teatro é bom. O que não funciona é ruim, é chato. Os atores precisam de conhecimento e de uma técnica que permita fazer tudo com muito pouco. Dá gosto de ver um grande ator em cena. Não aqueles que apenas passaram pela vivência abstrata”.
“Eu quero estender a mão para parte do público e, assim, acredito que vamos fazer um país melhor. Está ficando muito perigoso viver. Precisamos deixar de lado um pouco as denúncias e pensar nas resoluções. Mas é preciso tomar cuidado com as resoluções. Não é fazer justiça com as próprias mãos como no Rio de Janeiro. Isso é terrível. Eu penso na arte. Eu quero navegar, sair fora de mim! Quero atingir o sétimo céu! A alienação positiva é importante. Denúncia hoje em dia não. Chega de denúncia! É todo dia no jornal, no rádio, na TV. Ninguém vai ao teatro para ver mais denúncia. Não estou negando a denúncia. Só é preciso viver mais a arte.”
Obrigado Antunes Filho. Nós seguimos por aqui. O teatro lhe agradece imensamente. Hoje tenho a certeza que todas as salas de espetáculos vão lhe dedicar um forte aplauso. Evoé!
Jose Simões é professor, encenador e pesquisador na área da Educação, do Espaço Teatral e Teatro-Educação.