22 de Novembro de 2024
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Inflação estoura a meta e fecha 2021 em 10,06%, maior alta desde 2015

Foto: reprodução
Postado em: 11/01/2022

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FOLHAPRESS

Em 2021, o poder de compra do brasileiro voltou a ser assombrado por uma inflação de dois dígitos. Nos 12 meses do ano passado, o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulou variação de 10,06%.

 


A alta é a maior para o período de janeiro a dezembro desde 2015 (10,67%), apontam dados divulgados nesta terça-feira (11) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

 


O resultado veio acima das expectativas do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg projetavam variação de 9,96% no acumulado de 2021.

 


O IPCA é o indicador oficial de inflação no país. Com o resultado, o índice estourou com folga a meta perseguida pelo BC (Banco Central).

 


A meta de inflação era de 3,75% no ano passado, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, podendo chegar até a máxima de 5,25%.

 


O presidente do BC, Roberto Campos Neto, terá de escrever uma carta explicando o avanço do IPCA acima do intervalo de referência. Será a sexta desde a criação do sistema de metas para a inflação, em 1999.

 


A carta mais recente foi escrita pelo antecessor de Campos Neto, Ilan Goldfajn, em janeiro de 2018. O texto era relativo à inflação de 2017, mas, na ocasião, o então presidente do BC se justificava por resultado ligeiramente inferior ao limite mínimo estabelecido.

 


No ano passado, a disparada do IPCA foi impulsionada por uma combinação de fatores díspares.

 


Houve carestia de preços administrados, como combustíveis e energia elétrica, aumento de itens básicos para as famílias, como alimentos, inclusive por alterações climáticas que afetaram plantio e colheita de diferentes produtos, além de persistente ruptura na cadeia global de abastecimento de insumos industriais, especialmente chips.

 


No recorte mensal, o IPCA desacelerou para 0,73% em dezembro, informou o IBGE nesta terça-feira.
Analistas consultados pela Bloomberg projetavam variação de 0,64% nessa base de comparação. Em novembro, o IPCA havia subido 0,95%.

 


"Uma inflação acumulada na faixa de 10% não estava no radar de ninguém no começo do ano passado. Ela se desgarrou de um padrão normal", afirma o economista-chefe da consultoria MB Associados, Sergio Vale.

 


"A inflação ainda não dá sinais de tranquilidade. O cenário é preocupante no início de 2022. Não vai ser fácil trazer a inflação de volta para a meta", completa.

 


O resultado de 2021 foi influenciado principalmente pelo grupo de transportes, que apresentou a maior variação (21,03%) e o principal impacto (4,19 pontos percentuais) no acumulado do ano.

 


Em seguida, vieram os segmentos de habitação (13,05%), que contribuiu com 2,05 pontos percentuais, e alimentação e bebidas (7,94%), com impacto de 1,68 ponto percentual. Juntos, os três responderam por cerca de 79% do IPCA de 2021.

 


"O grupo dos transportes foi afetado principalmente pelos combustíveis", afirma o gerente do IPCA, Pedro Kislanov.

 


Com os reajustes nas bombas, a gasolina acumulou alta de 47,49% em 2021. O etanol, por sua vez, disparou 62,23%.

 


Outros destaques nos transportes foram os preços dos automóveis novos (16,16%) e usados (15,05%). Segundo Kislanov, os aumentos dos veículos estão relacionados ao desarranjo na cadeia produtiva do setor automotivo.

 


No grupo habitação, a principal contribuição (0,98 ponto percentual) veio da energia elétrica (21,21%), que ficou mais cara com a crise hídrica.

 


Em alimentação e bebidas, a variação de 7,94% foi menor do que a do ano anterior (14,09%). Mesmo assim, houve fortes aumentos em parte dos itens, como café moído, que subiu 50,24%, e açúcar refinado, que teve elevação de 47,87%.

 


"A alta do café ocorreu principalmente no segundo semestre, pois a produção foi prejudicada pelas geadas no inverno. Já o preço do açúcar foi influenciado por uma oferta menor e pela competição pela matéria-prima para produção do etanol", diz Kislanov.

 


CHOQUES NA PANDEMIA

 


Uma sucessão de choques vista ao longo do ano passado está por trás da escalada dos preços.

 


Depois de desalinhar cadeias produtivas globais, a pandemia seguiu provocando escassez de insumos no mercado internacional em 2021. Com a falta de matérias-primas e a reabertura da economia, os preços ficaram mais caros em diferentes regiões.

 


No Brasil, a pressão foi intensificada pela desvalorização do real ante o dólar. A moeda americana subiu em meio a turbulências na área política protagonizadas pelo governo Jair Bolsonaro (PL).

 


O câmbio elevado também encareceu os combustíveis. Isso ocorreu porque o dólar é levado em consideração pela Petrobras na hora de definir os preços nas refinarias de itens como a gasolina, com grande peso no IPCA.

 


A inflação brasileira ainda foi turbinada pelos choques climáticos no ano passado. A severa crise hídrica que atingiu o país aumentou os custos para geração de energia elétrica e, como consequência, as contas de luz dos consumidores. A seca, aliada ao registro de geadas, também pressionou os alimentos no ano passado.

 


O avanço generalizado dos preços penaliza sobretudo os mais pobres. O Brasil passou a ter uma sucessão de casos de pessoas em busca de doações e até de restos de comida para alimentação.

 


Ionara Jesus Santos, 40, moradora de uma comunidade na zona sul de São Paulo, conta que atravessou 2021 sofrendo com a escalada dos preços de itens básicos. Quase tudo foi ficando mais caro. Ao mesmo tempo, ela amargou perda de renda.

 


Antes da pandemia, Ionara trabalhava como diarista. Com a crise, as oportunidades sumiram. Não consegue trabalho e busca doações para alimentar os quatro filhos.

 


Hoje, a renda familiar se resume ao BPC (Benefício de Prestação Continuada) recebido pela filha de 21 anos, que teve paralisia cerebral, diz a diarista. O valor do benefício é de um salário mínimo mensal.

 


"É difícil ver um filho com fome e não ter muito o que fazer. Estou dependendo de doações. Tudo ficou caro na pandemia", afirma.

 


"Gostaria de voltar a ter um emprego, de ter um dinheiro para manter a família. No mercado, a gente não pode comprar carne ou um arroz mais decente, escolhemos sempre o mais barato", acrescenta.

 


Para tentar conter a alta dos preços, o BC vem subindo a taxa básica de juros. O efeito colateral da Selic mais alta, atualmente em 9,25% ao ano, é inibir investimentos produtivos na economia, já que as linhas de crédito ficam mais caras. Falta de investimentos também tende a frear a geração de empregos e retardar ainda mais a retomada.

 


"A inflação mais alta requer juros mais altos, o que afeta o crescimento econômico. É um ciclo. Por isso, a inflação é tão perigosa", afirma a economista-chefe do banco Ourinvest, Fernanda Consorte.

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