Danielle Brant, FOLHAPRESS
A Procuradoria Geral de Illinois acusou nesta quarta-feira (19) a Igreja Católica no estado de ocultar o nome de mais de 500 padres acusados de abuso sexual contra crianças e de desconsiderar as queixas recebidas.
Em relatório, a procuradora Lisa Madigan afirma que a Igreja “muito frequentemente ignorou sobreviventes de ataques sexuais cometidos por clérigos”.
A investigação de Madigan teve início em agosto, após a divulgação de um relatório da Suprema Corte da Pensilvânia que acusou 301 “padres predadores” de abusar de mais de mil menores no estado. Os crimes teriam sido acobertados pela Igreja Católica.
Num primeiro momento, apenas duas das seis dioceses de Illinois divulgaram a lista de clérigos que teriam sido acusados de forma “crível” de abusar sexualmente de crianças. Como resultado da investigação, as outras quatro dioceses publicaram listas semelhantes.
Ao todo, 185 membros da Igreja foram identificados publicamente pelas dioceses. Mas o escritório de Madigan, revisando os arquivos e documentos, descobriu ao menos outros 500 clérigos que sofreram algum tipo de acusação.
Os casos não foram investigados adequadamente pelas dioceses -quando foram investigados, diz. Em alguns episódios de suposto abuso sexual infantil, a Igreja não notificou as autoridades legais ou os serviços responsáveis por crianças e famílias.
Entre as razões dadas para não revelar as acusações estão que o padre ou clérigo já tinha morrido ou renunciado quando a diocese tomou ciência do caso.
“Ao escolher não investigar cuidadosamente as acusações, a Igreja Católica falhou em sua obrigação moral de fornecer aos sobreviventes, paroquianos e ao público uma contabilidade precisa de todos os comportamentos sexuais inadequados envolvendo padres em Illinois”, afirmou Madigan.
Segundo ela, isso significa que a Igreja nunca fez um esforço para determinar se o comportamento dos padres acusados foi ignorado ou acobertado por superiores.
Em comunicado, o cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, expressou “novamente o profundo arrependimento de toda a Igreja por nossos fracassos em combater o flagelo do abuso sexual cometido por clérigos”. “É a coragem de sobreviventes que lançou luz purificadora neste capítulo sombrio da história da Igreja.”
A procuradora-geral está a poucos dias de deixar o cargo. Ela será substituída em janeiro por Kwame Raoul, que disse estar comprometido a continuar com a investigação iniciada por Madigan.
“As notícias de hoje demonstram a necessidade de um cuidado contínuo em investigar crimes contra crianças ocorrendo dentro de instituições que não têm um histórico de transparência unilateral e proativa”, afirmo Raoul, em comunicado no qual agradeceu a Madigan por ter iniciado a investigação.
O episódio é o mais recente capítulo do escândalo de abusos sexuais cometidos por clérigos católicos. No caso revelado pela Suprema Corte da Pensilvânia, um relatório de quase 1.360 páginas aponta “que havia não apenas abuso sexual, estupro de crianças, mas um acobertamento sistemático que chegava até o Vaticano”, segundo o procurador Josh Shapiro.
Por causa do tempo transcorrido entre os abusos e a investigação, muitos padres e líderes religiosos que acobertaram os casos não podem ser processados, disse Shapiro.