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Gay, maquiador releva declarações de presidente e vira defensor de Bolsonaro

Postado em: 25/04/2019

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Anna Virginia Balloussier, FOLHAPRESS

Agustin Fernandez, 26, tem três cãezinhos da raça Lulu da Pomerânia, todos batizados com nomes de ídolos seus: a Shaki, a Beyoncé e o Jair Messias.

Foi o macho que o maquiador beijou em vídeo postado, dias após Jair Messias Bolsonaro vencer o primeiro turno da eleição, em seu Instagram, com três milhões de seguidores.

Dali a semanas, o “capitão” seria eleito presidente, e com sua vitória viria o epíteto que até hoje acompanha Agustin: “O gay de Bolsonaro”.

Ele não está nem aí. Maquiador próximo de celebridades como Preta Gil e Valesca Popozuda, viu a maioria delas se afastar, fora contratos que perdeu. Tudo de alguma forma relacionada à sua admiração pela família Bolsonaro.

Voltando ao pequeno Jair (o cão, não o presidente): depois que lhe dá uma bitoca, Agustin finge que foi atacado pelo mascote e xinga: “Ai! Homofóbico, fascista, racista”.

Na legenda, adverte: “Pessoal, muito cuidado com os dogs eleitores do ‘coiso’, olha o que fizeram comigo”. No rosto, um suposto machucado, na verdade um rabisco em forma de suástica.

Uma ironia com rótulos que a esquerda costuma associar a Jair (o presidente, não o cão). Pois Agustin discorda de todos eles.

Ele conta à reportagem que está terminando uma autobiografia em que ficará claro por que ele, homossexual, admira um senhor que já disse preferir um filho morto a um filho gay.

Ele já apareceu do lado do presidente, com batom bem vermelho. Também brincou, na internet, com o primogênito do clã: “Eu não queria comentar, mas estou esperando um bebê de Flávio Bolsonaro”.

Nunca se sentiu discriminado por qualquer Bolsonaro, diz. Pelo contrário.

Influenciador digital, o maquiador foi até convidado para a casa do presidente eleito, ele e a amiga youtuber Antonia Fontenelle. Deu ao anfitrião um relógio de presente porque o de Bolsonaro, “um Casio velho”, não dava mais, concluiu.

Aproximaram-se depois de Agustin declarar, em setembro, apoio ao então presidenciável do PSL. “Na hora não pensei como homossexual, e sim como empresário preocupado.”

Os filhos de Bolsonaro propuseram: “‘Olha, meu pai quer muito te conhecer”. De passagem pelo Rio, topou e se surpreendeu, afirma.

“Fui na casa dele, fiquei o dia inteiro lá. Quebrou muitos paradigmas, tanto pra mim quanto pra ele. Acredito que tolerância é isso, não é a gente sair desejando a morte para quem pensa diferente, mas mostrar que existe uma perspectiva diferente.”

Ficou fã da então futura primeira-dama Michelle Bolsonaro, “um amor de pessoa”. Descreve-a como uma mulher “que gosta de servir, ficava o tempo inteiro me servindo, café, comida. Admiro muito isso, pessoas que sentem prazer em servir os outros”.

Agustin servia como mão de obra gratuita em seu Uruguai natal, quando morava “de emprestado na casa da dona do salão de beleza onde eu trabalhava, em troca da hospedagem, de ter onde comer”. No fim de semana, era barman numa boate.

Chegou ao Brasil há oito anos, com R$ 700 na carteira, e por aqui virou um ícone virtual a reboque do visual barbudo e ultramaquiado. Em 2016, calculava ter ganho quase R$ 1 milhão. Hoje prefere não discutir valores.

Números, com ele, tendem a ser hiperbólicos. Exemplo: quase cem mil pessoas curtiram um ataque seu contra Bruna Marquezine em janeiro: “Quem te deu um pé na bunda não foi o Bolsonaro, foi o Neymar. Pare de descontar sua dor nele, ressentida”.

A atriz, ex do jogador, havia criticado Bolsonaro. Mexeu com o presidente, mexeu com Agustin.

Na mesma época, uma empresa que o convidara para um evento de beleza no Ceará acabou desistindo de tudo, pressionada pela fúria virtual contra o detrator de uma das atrizes mais famosas do Brasil.

“Minha cliente falou que, por questões de segurança, preferia cancelar o evento. Ela foi ameaçada, disseram que, se me levasse, teria problemas.”

Isso acontecer logo depois da briga com a global foi só uma coincidência, diz. “A Bruna não tem essa potência para deixar alguém sem trabalho.”

Semanas depois, o uruguaio contou a seus seguidores sobre o “dia muito especial” que teve: ser batizado, com imersão numa piscina, por um pastor evangélico.

“Simplesmente me reconheci no louvor da igreja desde o primeiro dia e foi muito natural”, disse então.

Sobre ser homossexual e evangélico, religião que tende a ver com maus olhos a união entre pessoas do mesmo sexo: “Isso é um assunto entre eu e Deus, não cabe a um mero mortal questionar. Jesus me ama do jeitinho que eu sou, com make ou sem, gay ou hétero, mal humorado inclusive, kkkk”.

O maquiador relativiza uma declaração de Bolsonaro sobre minorias terem que se curvar a maiorias. Ele próprio sendo de uma delas, a LGBTQ.

“Quem é minoria acaba se adaptando à maioria, é normal, acontece”, diz. E não é como se fosse razoável “colocar toda essa responsabilidade no governo”, afirma, lembrando da cobrança para que mulheres ganhem salários equivalentes aos dos homens num mesmo cargo.

“Na minha empresa, elas ganham mais. Só uma pessoa ganha salário mínimo lá, porque tem um trabalho muito simples, fechar pacotinhos com durex”, diz o dono de uma linha de cosméticos.

Agustin diz que, como tantos gays, também ele sofre com o preconceito. “Mas acho que todo mundo sofre. Eu porque sou gay. Um porque é gordo, outro porque é branco. As pessoas acham que quem é branco não sofre, mas eles sofrem também, chamam de branquelo.”

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