Via Jornal da USP
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) identificaram 13,5 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza no Brasil em 2015, 6,5% da população. Importante fator na determinação da qualidade de vida, não só pela privação material mas também pelos déficits de desenvolvimento cognitivo e emocional, especialmente nas crianças, a pobreza nacional é objeto de estudo de pesquisadores da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP. E os últimos achados da equipe apontam a educação ruim como um dos principais fatores a perpetuar a pobreza.
Nesse estudo, decidiram pesquisar o cenário da pobreza brasileira a partir de uma perspectiva macroeconômica, relacionando dados econômicos regionais com as notas do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica divulgadas em 2015. Realizaram então dois ensaios para analisar mais profundamente os impactos da pobreza no desenvolvimento e formação do capital humano, ou seja, na qualidade da educação que uma pessoa recebe ao longo da vida. O objetivo, comentam, foi compreender os efeitos da pobreza no processo do desenvolvimento econômico.
No primeiro ensaio, avaliaram os efeitos da pobreza na qualidade da educação e observaram, por exemplo, que o aumento de um ponto percentual na incidência de pobreza é capaz de reduzir em 1,2% a performance escolar dos estudantes do quinto ano do ensino fundamental. Nos alunos do nono ano, esse efeito é de 1,1%.
Para o segundo ensaio, os pesquisadores utilizaram a tese de convergência da pobreza do economista australiano Martin Ravallion, com base no artigo Por que não vemos a convergência da pobreza?, para avaliar as razões da manutenção da pobreza em determinados municípios do País. E os resultados sugerem que a própria pobreza afeta negativamente o crescimento da renda per capita local, desacelerando o processo de redução da pobreza.
Segundo o professor Luciano Nakabashi, da FEA-RP e orientador da pesquisa, “todos esses elementos fazem com que a criança tenha um desempenho pior, um salário menor, com dificuldades financeiras, e os filhos dela vão passar por dificuldades semelhantes. Isso acaba caracterizando uma armadilha da pobreza.”