Angela Pinho, FOLHAPRESS
A gestão João Doria (PSDB) decidiu aumentar em 15 minutos o tempo diário de aulas na rede estadual e enxugar em 10% a duração das disciplinas tradicionais, como matemática e português.
O objetivo é ampliar o número diário de aulas dos alunos de seis para sete, abrindo espaço para componentes extracurriculares.
Com o rearranjo da carga horária, serão disponibilizadas cinco aulas adicionais por semana: uma sobre tecnologia, duas eletivas, que poderão ser escolhidas pelos estudantes, e duas de projeto de vida, já ofertadas hoje em parte das escolas de tempo integral, nas quais os jovens farão atividades para definir seus objetivos para o futuro.
Para possibilitar a inclusão dessas novas áreas, a duração de cada aula cai de 50 minutos para 45. Com os 15 minutos adicionais por dia, o horário de saída do período matutino passa a ser às 12h35, em vez de 12h20, e o do vespertino passa a ser 18h35, e não 18h20.
Com as mudanças, o aluno passará a ter 50 horas a mais de aulas por ano.
Entre as disciplinas eletivas que poderão ser ofertadas estarão conteúdos como empreendedorismo, educação financeira e comunicação não violenta. Elas deverão ser ministradas pelos próprios professores da rede, que receberão uma formação para isso.
Pode haver ainda ampliação da carga horária do profissional, se ele o desejar, ou ainda novas contratações.
O objetivo das mudanças, segundo a gestão Doria, é desenvolver novas competências e as chamadas habilidades socioemocionais, como resiliência e abertura ao novo.
Presidente do Instituto Ayrton Senna, que apoia a iniciativa, Viviane Senna diz que elas devem impulsionar a aprendizagem dos conteúdos tradicionais. “O socioemocional é uma alavanca para o cognitivo. O aluno precisa estar motivado para aprender.”
Segundo o secretário da Educação, Rossieli Soares, o horário reduzido de disciplinas como matemática, português, química e física será compensado com ferramentas de gestão do tempo de aula, e parte do currículo será distribuída pelas novas aulas da grade.
A ideia, afirmou, é trabalhar com novas práticas para reduzir o tempo perdido com tarefas como chamada e organização dos alunos. Segundo Soares, só 22 minutos de uma aula de 50 minutos hoje em dia são usados para a aula em si.
As mudanças começam a valer em 2020 para os alunos do 6º ano em diante.
Em seu plano de governo, Doria havia prometido aumentar o número de escolas em tempo integral –aquelas que têm uma carga horária diária de ao menos sete horas.
Segundo o secretário, a promessa está mantida, mas a iniciativa anunciada nesta segunda-feira (6) busca estender de forma mais rápida a todos os alunos da rede os conteúdos do tempo integral, como as eletivas e o projeto de vida.
De acordo com Soares, ainda se levará de 10 a 15 anos para universalizar o tempo integral na rede estadual. Ele disse que ainda não foi definida uma meta numérica de escolas de tempo integral em 2019.
No anúncio das novas medidas, Doria prometeu recolocar o estado na liderança do Ideb (índice de qualidade da educação) em 2021. Hoje, a rede estadual paulista é a 4ª do ranking para o ensino médio.
Para Kátia Smole, do Movimento pela Base Nacional Comum, o anúncio do governo é interessante principalmente por se aplicar a todos os alunos e por atuar nos anos finais do ensino fundamental.
“Todo mundo se preocupa muito com alfabetização e ensino médio, mas, se não mudarmos questões anacrônicas dos anos finais, não vamos avançar”, afirma.
Em sua avaliação, a tendência é que o aproveitamento do tempo de aula seja melhor, desde que a formação de professores para o conteúdo adicional funcione bem.
As mudanças, por ora, não valem para o ensino médio noturno, no qual a aula já é de 45 minutos, mas o tempo de aula total é de 4 horas, e não de 5 horas, como nos demais períodos –que passarão a ter 5h15. Segundo o secretário, está sendo desenhada uma nova proposta para esse turno.