Os vereadores integrantes da Comissão Processante, que tem o poder de cassar o mandato do prefeito José Crespo (DEM), Hudson Pessini (relator, MDB) e Silvano Júnior (presidente, PV), concederam entrevista ao Jornal da Ipanema, da Rádio Ipanema, nesta manhã de terça-feira (30), para falar sobre os trabalhos da CP.
Segundo ambos parlamentares, após a abertura da comissão, a atitude do Governo Crespo perante os mesmos “mudou para melhor”. “Mudou da água para o vinho”, disse Silvano, relatando que os secretários do prefeito José Crespo nunca atendiam suas ligações. “Liguei e na hora fui atendido. [Antes] Ligava 20, 30 vezes no dia e não me atendiam. Tem secretário que nem me conhece, nem sabe quem sou”, frisa.
Já Pessini comparou o relacionamento do Executivo com um relacionamento amoroso. “Sabe quando você dá aquela pisada de bola e precisa agradar com flores? Com o Executivo funciona assim, quando há um possível fim do relacionamento, ele começa a querer agradar”, explicou.
Os integrantes da CP também foram perguntados se o Executivo ofereceu cargos no governo após a aprovação da comissão. “Alguns vereadores transitam nessa modalidade. Eu sou um desses vereadores que não tem essa prática [de aceitar] cargos. Se eu for procurado nesse momento com uma oferta como essa, pode caracterizar como interferência para me anular dentro desse meu papel na comissão processante. Fica muito ruim qualquer vereador aceitar qualquer tipo de coisa”, defendeu Pessini. Silvano disse que não foi procurado e nem aceitou nada.
Questionados se eles ouvem na rua algum munícipe pedindo para que o prefeito não seja cassado, os parlamentares balbuciaram, mas depois dispararam: “sinceramente, ninguém falou isso para mim”, disse Silvano. Já Pessini foi mais direto: “nos abordam e dizem: pelo amor de Deus, por que não cassaram ainda?”.
O prefeito ainda não foi intimado sobre a comissão, mas isto deve ocorrer nos próximos dias, assim que a ata da reunião ocorrida nesta segunda-feira (29) for aprovada.
Sem pizza
Os vereadores aproveitaram para explicar a votação da semana passada, mais especificadamente na terça-feira (23) sobre os pedidos de de cassação de que não foram aprovados na Câmara, sendo um deles do munícipe Fábio Ricardo dos Santos, rejeitado por 17 votos a 2. Segundo eles, seu maior motivo foi ter como base uma denúncia com investigação que não tenha brecha judicial, caso os vereadores votem para o fim do mandato do prefeito e ele não consiga retornar à prefeitura pela Justiça. “A CPI [do Falso Voluntariado] dá mais foco e menos chance de cometer qualquer tipo de falha. Se você comete falha, automaticamente todo o processo pode ser questionado”, esclarece o relator Pessini. “Pizza? Não, é questão estratégica. Com a CPI dá condição de você alcançar êxito.Temos que, ao máximo, evitar qualquer brecha para que a comissão seja derrubada na Justiça”, complementou.
Representações no Ministério Público
Pessini disse ter denunciado ao Ministério Público a suposta intimação do Executivo a secretários e comissionados para comparecerem em peso na Câmara, na última quinta-feira (25), para acompanhar a votação da abertura da Comissão Processante. “O Executivo está à serviço da municipalidade. Ele não podia ter pedido. O que me chegou, mas dá para ser checado isso. Comissionados foram intimados via e-mail para ir lá. Enumerei todas as pessoas que estavam lá. O que elas deixaram de fazer. Enviei ao Ministério Público. Pessoas pagas com dinheiro público em benefício da pessoa (Crespo)”. O relator ainda relembrou que a mesma coisa ocorreu no dia da cassação, em agosto de 2017, esta sobre a prevaricação cometida pelo prefeito por não investigar a denúncia de falso diploma de Tatiane Polis. À época, os secretários e comissionados ocuparam praticamente todos os assentos da galeria.
Hudson também encaminhou uma representação ao MP sobre o prefeito José Crespo utilizar canais de comunicação institucionais, como o site da prefeitura, para se promover politicamente.
Além disso, o Ministério Público do Estado de São Paulo (MP/SP) instaurou inquérito civil contra o prefeito José Crespo, o ex-secretário de Cultura e Eventos, Werinton Kermes, e o Consórcio Sorocaba Ambiental (CSA) para apurar a prática de improbidade administrativa geradora de enriquecimento ilícito. A investigação é referente ao edital de chamamento feito pela Secretaria da Cultura e Turismo cujo tema foi “Seleção de graffiti e arte urbana”, que destinou verbas para que caminhões de coleta de lixo da empresa Consórcio Sorocaba Ambiental (CSA) fossem grafitados por artistas locais.
O promotor Orlando Bastos Filho concedeu prazo de 10 dias para que a Prefeitura preste esclarecimentos quanto ao fato e apresente toda a documentação do certame. O pedido de investigação foi apresentado pelo vereador Hudson Pessini (MDB), que também é relator da Comissão Processante que apura crimes no caso do Falso Voluntariado de Tatiane Pólis na Prefeitura e pode resultar na cassação do prefeito de Sorocaba. Kermes é um dos investigados também pela Operação Casa de Papel, da Polícia Civil e do Ministério Público, que apuram a atuação de uma organização criminosa na Prefeitura.