José Antonio Bicalho, FOLHAPRESS
Palco de uma tragédia que matou ao menos 65 pessoas e deixou 279 desaparecidas em uma cidade de 39 mil habitantes, Brumadinho (MG) se apressa em abrir espaço para enterrar seus mortos.
Do lado esquerdo de quem entra no cemitério Parque das Rosas, na área pública de sepultamento, 98 covas foram abertas entre o último sábado (26) e segunda-feira (28). Entre os locais de sepultamento existentes em Brumadinho, esse é o que possui a maior área livre e deverá receber o maior número vítimas do rompimento da barragem da mineradora Vale.
Parte das vítimas deverá ser enterrada do lado direito do cemitério, na área destinada aos jazigos pertencentes a famílias. Ali não é possível fazer abertura prévia de covas e, por isso, a expectativa é de trabalho intenso nos próximos dias.
A equipe do cemitério, de apenas dois coveiros, subiu para 12 com o remanejamento de funcionários da prefeitura e o trabalho de voluntários.
No Córrego do Feijão, bairro onde aconteceu a tragédia, o cemitério local está sendo ampliado às pressas com a abertura de 20 novas covas.
Os primeiros enterros no distrito deverão acontecer na terça-feira (29).
Brumadinho possui uma série de vilarejos rurais, dos quais sendo que sete têm cemitérios. Somados aos três da sede, são dez ao todo no município. A Prefeitura não tem controle do número de covas disponíveis.
O pedreiro Joaquim Adão Cândido, de 63 anos, trabalhava ontem como voluntário na abertura de covas no Parque das Rosas. Ele disse que ouviu pelo rádio o pedido de ajuda feito pela Prefeitura e se apresentou com as próprias ferramentas. Disse que deixou a filha chorando em casa, já que o genro, Ruberlan Antônio dos Santos, de 47 anos, técnico em segurança do trabalho, é um dos desaparecidos. Também estão desaparecidos um amigo e uma prima.
“Eu trabalho aqui de dia, vou para casa, tomo um banho e a noite vou consolar minha filha”, disse. A preparação para o grande número de enterros se dá também nos velórios. O frei agostiniano Alexandre Escame veio voluntariamente de Belo Horizonte para reforçar a equipe de religiosos da cidade, junto com uma freira e uma musicista.
“Acredito que, nos próximos dias, teremos que realizar exéquias coletivas, o que não será bom porque as famílias estão muito traumatizadas, com muito choro e desespero”, disse.
Dois psicólogos voluntários também apoiavam as famílias no Cemitério Velho.
Nesta segunda-feira, até as 17h, foram realizados seis enterros nos três municípios da sede, e mais dois nos cemitérios dos distritos de Tejuco e Suzano. Os outros cemitérios não disponibilizaram informações das vítimas enterradas.