Ricardo Della Coletta, Cézar Feitoza e Mateus Vargas, FOLHAPRESS
As festividades do 7 de Setembro em Brasília devem ter a participação de 4.500 militares num desfile na Esplanada dos Ministérios, número similar ao de anos anteriores, e podem contar ainda com a presença de chefes de Estado dos países de língua portuguesa.
O governo Jair Bolsonaro (PL) convidou para as festividades os chefes de Estado de Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
Interlocutores disseram à reportagem que o presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, já comunicou que pretende comparecer.
O feriado de 7 de Setembro deste ano marca os 200 anos da Independência do Brasil. Em declarações públicas recentes, o presidente indicou que planeja transformar as festividades em atos bolsonaristas.
Neste sábado (30), durante a convenção que lançou o ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos) candidato ao Governo de São Paulo, Bolsonaro anunciou uma inovação para celebrar a data: um desfile militar oficial em Copacabana, no Rio de Janeiro.
Na data, Bolsonaro estará em desfiles oficiais das Forças Armadas pela manhã, em Brasília, como é tradição, e agora também no Rio de Janeiro.
"Sei que vocês [paulistas] queriam [que o ato fosse] aqui [em SP]. Queremos inovar no Rio. Pela primeira vez, as nossa Forças Armadas e a as forças auxiliares estarão desfilando na praia de Copacabana", disse.
Em outras declarações, Bolsonaro havia afirmado que as comemorações do Bicentenário da Independência vão mostrar que ele é o único candidato à Presidência que tem grande apoio popular.
"Eles querem aproveitar a data de 7 de Setembro para ter uma grande concentração, por exemplo, em São Paulo e nas capitais, aqui em Brasília. Vai ser um 7 de Setembro e também um apoio a um possível candidato que esteja disputando", disse ao SBT News, em junho.
A informação de que Bolsonaro convidou os dignatários de países lusófonos foi confirmada pelo Itamaraty. "Até o momento, foram convidados para as festividades do Bicentenário da Independência do Brasil apenas os chefes de Estado dos países de língua portuguesa", disse a pasta.
Fontes consultadas disseram que o convite aos dignatários lusófonos é para as festividades em Brasília, incluindo o desfile.
O presidente português, inclusive, esteve no centro de uma recente polêmica com Bolsonaro. No início de julho, o líder brasileiro desmarcou uma reunião que teria com Marcelo Rebelo em Brasília.
O motivo foi que Bolsonaro se irritou com o fato de Rebelo ter agendado uma reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), principal adversário do presidente nas eleições deste ano.
Com a possível presença de altas autoridades estrangeiras, a expectativa de interlocutores ouvidos é que o desfile do 7 de Setembro em Brasília seja protocolar e que eventuais sinalizações golpistas de Bolsonaro para sua base mais radical fiquem reservadas para o evento no Rio de Janeiro.
Além de Bolsonaro, normalmente são convidadas para o desfile em Brasília autoridades dos outros Poderes, entre eles os presidentes do STF (Supremo Tribunal Federal), da Câmara e do Senado.
Ao organizar um desfile militar na tarde do feriado em Copacabana, Bolsonaro repete em parte o que fez no ano passado. Na ocasião, ele realizou atos políticos em Brasília e, à tarde, em São Paulo -o tradicional desfile militar na capital federal não ocorreu em 2021 por conta da pandemia.
Nos atos do ano passado, Bolsonaro fez ameaças golpistas ao STF e atacou ministros da corte. Em discurso na avenida Paulista, em São Paulo, o presidente exortou desobediência a decisões da Justiça e disse que só sairá morto da Presidência da República
"Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês, determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Dizer a vocês, que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou", afirmou no ano passado.
Generais do Alto Comando das Forças Armadas afirmam, sob condição de anonimato, que a expectativa é que o desfile deste ano na Esplanada dos Ministérios atraia um número maior de público do que em edições anteriores.
Há três motivos para a previsão: a comemoração do Bicentenário da Independência, a volta do desfile após dois anos sem evento oficial e as convocações feitas por Bolsonaro.
No STF e no TSE, ministros acompanham com apreensão as declarações golpistas de Bolsonaro. O temor é justamente que Bolsonaro use o desfile militar para insuflar apoiadores contra o Judiciário e o sistema eleitoral brasileiro.
Apesar disso, a avaliação até o momento é que o atual clima entre o Planalto e o Judiciário não está tão hostil como no ano passado. A própria mobilização de bolsonaristas para o 7 de Setembro parece ter menos força neste ano.
Convocadas há alguns meses para serem atos preparatórios ao Dia da Independência, manifestações pró-governo neste domingo (31) tiveram baixa adesão.
Na avenida Paulista, em São Paulo, a mobilização reuniu algumas dezenas de bolsonaristas diante de um trio elétrico. As críticas às urnas eletrônicas predominaram entre os discursos, que pediam o voto impresso e diziam que Bolsonaro havia baixado o preço do combustível.
Os manifestantes que se aglomeravam ali levavam bandeiras do Brasil junto ao corpo e vestiam verde e amarelo. Apoiadores do ex-presidente Lula que passavam pelo local faziam o gesto de L com a mão e gritavam "Fora, Bolsonaro", no que ouviam: "vai pra lá, petista".
Próximo à saída do metrô, duas mulheres levavam cartazes pedindo a intervenção das Forças Armadas e destituição dos ministros do STF e TSE. O ministro Alexandre de Moraes, que assume o comando da corte eleitoral no próximo dia 16, foi o principal alvo dos bolsonaristas.